A obra de Luzia nos envolve, há uma suspensão da consciência imediata, tão valiosa na vida em geral e na arte em particular. Rapidamente somos envolvidos por um mundo de ilusões, ambigüidades e surpresas. Percebemos a intimidade da artista e sua matéria prima, a bucha vegetal, uma convivência que começou na infância onde: “nós plantávamos e colhíamos”, e redescoberta nas aulas de escultura no museu do Ingá. Depois desse reencontro são vinte anos de pesquisas que criaram o universo artístico de Luzia. Surgiram esculturas que dialogam com as “coisas” do mundo possuindo uma estrutura em aberto que possibilitou a experiência carnavalesca. Ela não representa o carnaval e sim apresenta ao carnaval sua poética. A consciência de ser artista transparece nas formas escolhidas devolvendo vida à bucha que nessa transformação encontrou “a plenitude de sua matéria” (Walter Benjamin). Luzia costura, sutura suas buchas no silencio que vai revelando o seu caminho. Para essa exposição à bucha tomou o corpo, ela não esfolia, ela é a própria epiderme, é a pele que cobriu o passista e ganhou a avenida. Do encontro da arte contemporânea com o barracão houve um duplo resgate. A bucha saiu de sua condição restrita de uso anônimo e os adereços tiveram seu fim anunciado suspenso pela intervenção da artista.
Claudia Ferraz
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