domingo, 24 de junho de 2012

mais um dia...


Mais um dia...
Fui à Feira do Livro, no  horário do meu plantão. Em tendas brancas os estandes com os mais variados autores apresentam ao público opções interessantes principalmente para crianças.
 De volta a casa,quando entro pela  porta, ao chegar à sala, lembro-me do plano que havia traçado para hoje. É que  já havia me organizado  para ler Fausto de Goethe. Então não há tempo a perder, e inicio como que um  ritual: terminei de ver mais uma vez  o filme Mephisto  e iniciei a leitura de “Os sofrimentos do jovem Werther” de Goethe.
 Aos poucos sinto-me sonolenta e a leitura prosseguirá amanhã.
 Enquanto ainda acordada,  me arrumando para deitar,  penso numa pessoa querida e meu coração entra em descompasso. Ligo para a família e quero notícias dela, dele.
Italiano alegre, forte e animado com a vida, há dois anos vive em cadeira de rodas.
 Não vê mais sua companheira, sua horta. Seus olhos estão permanentemente cerrados.
 Não pode mais dançar forró e colher tomates na horta. Não tem mais força nas pernas para manter-se de pé. Ele não anda.
 Teria lembranças, faria planos?
A pimenta que plantava e colhia era condimento indispensável em suas refeições diárias. Hoje se alimenta através da sonda.
 Onde está aquele passo largo e apressado de homem forte e decidido?
 Seu pensamento  caminha pelas ruas da cidade naquela terra mãe, visitando os amigos, contando piadas, fazendo troça? Ele reflete?
 Sua casa praiana, abrigo aprazível, espera pacientemente  a chegada dele, que já há dois anos não volta para tomar sua branquinha e nem se ouve o estalar de seus lábios ao saborear essa pinga boa. Que foi feito de seu paladar?
Tocaram a campainha de minha casa.
 Abro a porta.
 Meu netinho de dois anos corre ao meu encontro num abraço apertado e pergunta: “Vovó, vamos brincar de quê?”

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