sexta-feira, 8 de março de 2013

DIA INTERNACIONAL DA MULHER





                   Imprudência
                                      

A sombra cobria o rosto
daquela bela mulher.
Seu desejo nunca fora contrariado.
 Foi pensando assim
que desceu lentamente aquela pequena
e estreita rua,que a levava até a praça.
 Haveria de encontrá-lo
e cometeria um requinte de imprudência
sem nem mesmo saber do que se tratava.
Tinha os cabelos negros, compridos e bem tratados;
unhas feitas em vermelho; vestido curto e justo
 que mostrava suas curvas bem definidas.
Estava levemente maquiada.
Os homens em pequenos grupos
na alameda, sob as árvores,
contavam casos e flertavam
com as mulheres.
 Estas passeavam pela rua
de braços dados  em perfeita sintonia.
O namorado chega e ao cumprimentá-la
aproxima seu rosto para perto.
Num instante ela lembra-se da imprudência
e lhe dá um beijo na boca, de língua.
Naquela época,
isso era um escândalo!


       

quinta-feira, 7 de março de 2013

Bispo do Rosário


Bispo do Rosário morou muitos anos na Colônia Juliano Moreira e foi beneficiado com a proposta de Nise da Silveira que no lugar da lobotomia, preferia oferecer aos pacientes, oportunidade de criar.
Participou (após sua morte) das  exposições:  Bienal de Veneza em 1995 e também em 2003 seus trabalhos estavam num Museu em Paris.
Bordava, colava, pregava a partir de objetos já prontos e construía sua obra: vestimentas, mantos envolvidos em fios e tramas que eram artisticamente elaborados mostrando sua sensibilidade, delicadeza e criatividade.
Bispo do Rosário é referência na arte contemporânea brasileira.

Muito me inspirei na obra fantástica de Bispo do Rosário. Seu fazer remetia aos retalhos de costura de minha mãe, aos pequenos objetos com os quais brincava na infância e aos bordados exigidos pela professora de ginásio, nas aulas de dona Guigui, no Colégio Alvorada em Natividade.
Como já havia resgatado da infância, a bucha vegetal,  agora tornava-se prazeroso costurar, tingir, colar e criar obras para o Carnaval.
Na Série "Carnaval dos Sonhos", uni o orgânico da bucha, com o brilho dos paetês e lantejoulas, utilizados nas fantasias e carros alegóricos que desfilaram no Carnaval.




       


 Luzia Veloso


           

            Na obra de Luzia Veloso, percebemos que a bucha vegetal é elemento mediador da artista com sua imaginação, um lugar entre “algo” objetivo e “algo” subjetivo. Luzia entrou em sua matéria e  através dela tramou um “caminho de peles” de buchas que ora joga o olhar para o micro universo, ora nos dá o macro como uma outra possibilidade.  Sua obra mostra uma intimidade com a bucha vegetal, como também nos revela o aspecto profundo da relação entre a artista e a sua arte.   Cada trabalho dá a bucha uma nova dimensão, a da mais pura abstração onde a cor e a forma são inseparáveis, uma dá sentido à outra.
            Em alguns trabalhos a bucha foi esgarçada até chegar ao seu mínimo como matéria para depois voltar a ser enrolada criando um novo sentido para sua existência. Em outros há um acumulo de fragmentos que levaram anos de pesquisas até chegarem a um formato que tende ao infinito, os trabalhos parecem poder crescer continuamente, num arranjo de pequenas unidades idênticas que se repetem, mas que não perdem sua autonomia. A parte é o todo e o todo é a parte.                                                                 
             A artista fala que: “a mão sabe o caminho a seguir”, e Deleuze, ao falar sobre a obra de Bacon em “A lógica da sensação”, escreveu: “é como se a mão ganhasse independência e passasse ao serviço de outras forças...”. A mão de Luzia sabe pela experiência que “a forma já está lá” e junto com a intuição  libera as forças  e as tensões inerentes do próprio material  que é constituída.
            Acostumada a criar grandes objetos e instalações, Luzia transita bem em qualquer dimensão, suas obras pertencem à categoria das que tem uma inteligência visível que fala por si e para todos. Há uma organização consciente que transcende o código perceptivo, só nos damos conta muito perto quando o próprio intelecto reconhece a bucha. Todo o processo de formação da obra não é de ocultar o material, é de desdobrar a bucha nela mesma em sintonia com uma essência que faz parte da arte.
Claudia Ferraz






sábado, 2 de março de 2013

A DÓCIL de Dostoiévski





                       

A DÓCIL

  Em “Duas Narrativas Fantásticas” de Dostoiévski

 

O narrador,  nobre, perde sua patente militar e passa a ser conhecido pela sociedade como  covarde que recuou diante de um duelo. Passou  tempo de muita pobreza e viveu na rua.Com  herança de sua madrinha, comprou  agência de penhores e com esse negócio só quer levar vantagens e com seu poder, domina a todos com sua astúcia. Uma de suas clientes que vinha  penhorar seus “bens” era “A Dòcil”, uma garota de 16 anos, órfão de pais, que levava pequenas bugigangas que ele, apesar de só lidar com ouro e prata, aceitava seus pequenos objetos.“Foi aí que advinhei que ela era boa e dócil.” p.22 Certo dia conversando com ela, perguntou se já tinha lido Fausto e citou um trecho de Goethe “ Sou parte de energia/ Que sempre o mal pretende e que o Bem sempre cria”. E concluiu, para a garota não ficar pensando que ele seria o diabo e ela retrucou que em qualquer situação se pode fazer o bem. Ele percebeu como que ela projetava seu interior íntegro e correto , para todas as pessoas. Achou encantador aquela simplicidade.Vai aos poucos gostando da presença da moça e sua atenção se volta mais ainda , quando ela quer fugir de um pretendente ousado e não querido. Diante dessa situação oferece sua ajuda e naturalmente sua casa. Entendeu que para ter essa mulher em sua casa deveria ser  pessoa sisuda e de pouquíssima conversa. Andou pesquisando sobre a vida dela e imaginou que já a possuía. Julgou também que de uma família desgraçada  que ela vinha, só podia ver nele um lorde. Pensou em se declara e começaria falando de seus defeitos e ao falar sobre as qualidades:“... mas, digo eu, em vez daquilo, tenho isso e isso, isso e isso e isso e aquilo.” p.31 Concluindo disse que ali com ele, ela teria condições de se alimentar. Aguardava a resposta dessa proposta um tanto confusa. Ela pensou muito e disse sim.

Ele com 41 anos e ela com 16! essa constatação o enchia de orgulho. Ela o abraçava, o envolvia mas logo logo percebeu que ele além de calado, não gostava desses afagos; era severo. Para ele essas eram estratégias para conquistar pois, queria mulher e filhos, se estabelecer na vida e ser feliz.

No atendimento aos fregueses, os dois tinham comportamentos diferentes, gerando brigas e desentendimentos. Num desses episódios ela saiu de casa e só voltou tarde. Ele ficou sabendo que agora sua mulher estava com  seus inimigos, que o traia e que era uma estranha em sua casa. Comprou então um biombo e uma cama e passaram a dormir separados. Ele pensou que a mataria com o seu revólver. Essa era também a vontade dela que esperou que ele dormisse pegou a arma e apontou-a para a cabeça do marido. Ele fingiu dormir e aguardou. Ela desistiu daquela ideia  e quando ele abriu os olhos, a mulher já não estava no quarto. Ela  estava doente, ele cuidava dela junto com a governanta Lukesia e uns enfermeiros. Passaram a conversar um pouco mais e ele queria perdoá-la. Certo dia a viu cantando tão baixinho, quase sem voz e ficou admirado que ela cantava. Depois soube que sempre que ele saía ela cantava. Tomado de um extremo ardor voltou da rua e passou a beijá-la, dizer coisas amorosas, tomado de grande paixão. Ela o acalmou e disse: “chega, não se torture, acalme-se!” e chorava... “E eu pensava que o senhor me deixaria assim”. p. 74

Ele vendeu os penhores e planejou viajar com ela.

Certa vez ele não estando em casa Lukesia ouviu um barulho de janela entrou em seu quarto e ela estava com o ícone o apertava-o no peito pulando pela janela.

“... quando amanhã a levar embora o que é que vai ser de mim.” p. 87

Diante do cadáver ele relembrou o relacionamento querendo entender porque ela se matara.

                     

sexta-feira, 1 de março de 2013

"Casos" de Luzia Veloso



                   
Casos

A medida que brincava com os netos, vinha a vontade de contar-lhes aquelas histórias experimentadas na roça e na cidade na companhia da família e amigos.
Queria falar que brincadeiras de roda, e só hoje percebo, têm tantos significados. Elas são a lembrança contada de geração a geração, advindas da vivência  de portugueses, africanos e índios, aqui no nosso país. iniciando assim as narrativas de nossas tradições. Queria que meus netos soubessem de detalhes interessantes como na brincadeira de “Escravos de Jó”, uma forma que  escravos  inventaram, construindo seu código particular de linguagem, a fim de prepararem a fuga livrando-se dos castigos e dos trabalhos forçados por seus senhores. Que havia brincadeira de pular corda; de pique esconde, queimado, bola de gude, passa anel, pião, peteca e tantas outras mais.
 O que seria mito, o que seria lenda?
Motivada pelas lembranças dos passeios no carro de bois com seu barulho característico, as festas de Reis, o bumba meu boi, as procissões e muitas histórias de arrepiar, fui escrevendo.
A princípio tratava-se de um projeto modesto com alguns textos que seriam impressos. Entretanto ele foi tornando vulto e terminei por escrever o livro “Casos”.
Testemunhas daqueles belos tempos, alguns amigos, participaram também do meu livro.



























         

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

SHAKESPEARE




                 
Algumas Considerações

  Nasceu no noroeste de Londres em 1564 e morreu com 52 anos no dia 23 de abril   de 1616.
    O primeiro registro sobre Shakespeare, foi em 1552 e era uma multa por acumular lixo em frente a sua casa. Seu pai teve vários empregos  tendo chegado a oficial de justiça. Sua mãe era doméstica e teve oito filhos. Casou-se com 18 anos e precisou da autorização do pai para casar-se. Sua mulher tinha 26 anos . Atribui-se esse fato a inspiração do autor em " Sonho de uma noite de verão" onde ele escreveu:
"O verdadeiro amor nunca seguiu um curso fácil.
Às vezes tem sido a diferença de linguagem...
Ou então mal unido pela diferença das idades-"
    Durante os chamados "anos perdidos" o autor , segundo notícias da época teria sido: agiota, marinheiro, soldado, jardineiro, cocheiro e topógrafo.
    Em 1592, o autor era conhecido pelos vários talentos: passou a fazer parte do teatro profissional em Londres;era ator, dramaturgo e revisor de peças; era conhecido como poeta.
    Quando perdeu seu filho, teria escrito em "Rei João":
" A dor substitui meu filho ausente!
Se deita em seu leito e passeia comigo.
Me olha com seus lindos olhos, repete suas palavras,
Veste suas roupas.
Tenho então razão para amar minha dor!"
No período elizabetano, onde só imperava o dinheiro, Shakespeare usa de metáfora para falar do mercado dos casamentos, numa canção para  "O Mercador de Veneza".
"Onde nasce a fantasia?
No coração, na cabeça?
Como é gerada e como se nutre?
           Responde, responde
É concebida nos olhos,
De olhares se nutre e morre
No berço mesmo onde jaz.
À morte dela dobremos,
Eu começo: blan, blen, blão!
Blan, blen, blão
Em 1576, foi construído na Inglaterra o primeiro teatro permanente. O Teatro Globe de Shakespeare, foi inaugurado em 1599.
Embora que a questão de autoria fosse muito comentada, concluiu-se que o Conde de Oxford, Edwward de vere- Francis bacon- Chistopher Marlowe- não escreveram as peças eos poema que na verdade são de autoria de Shakespeare.
Foi somente no ano de 1769, que ele foi considerado um clássico.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Infâmia de Ana Maria Machado

                           

                                      
      Custódio morava no mesmo lugar onde nascera. Estava para se aposentar e era chefe do setor.Tinha dois filhos Eduardo que foi morar longe e Jorjão  fisioterapeuta que morava ainda com os pais. Pensava que alguma coisa estava acontecendo com ele na repartição depois da entrada do novo chefe- mas não detectava o que era. Sentia os colegas que se distanciavam dele e seu chefe que ralhava sempre.
Conversou com o filho Jorjão e pediu que o encaminhasse ao jornalista Túlio para falar dos problemas da repartição: primeiro os comentários sobre dona Guiomar " Comendo aquela pelancada"p.74 
Vai procurar seu amigo que havia se aposentado fora do período, mesmo ganhando menos na aposentadoria  e o amigo lhe revelou que foi encontrado com folhas escritas com envio de dinheiro para um deputado, jogada no lixo pela secretária que veio correndo pegar de suas mãos e o chefe o incriminou , ofendeu e ameaçou se ele dissesse alguma coisa sobre o que viu. Ele resolveu sair do trabalho, porque surgiu um outro problema e ele não suportou o boato que saiu na repartição de que sua filha era mulher fácil.
     Custódio resolveu fazer uma denúncia pela TV.
         Lembrou-se de outros problemas onde até seus amigos mais queridos o evitavam. Todos os dias saiam notícias no jornal de que ele era ladão e ele sentia vergonha.
Dr Newton explicou: " ...sigilo que protege a fonte de informação é sagrado para a liberdade de imprensa". p.166
      Custódio sentia-se um judas: "...até as cidades despencam. Quanto mais a honra de um humilde funcionário público decente..." p.182
      Agora o jornal dizia que em sua conta fora depositado duas parcelas altas. Mas ninguém foi procurar saber que se tratava da venda do apartamento de sua mulher cujo pagamento foi dividido em duas partes. A imprensa não pesquisa para noticiar.
      Custódio passou a faltar no emprego . Em casa ao ler o livro de Jó, pensava naquele Deus justo que era injusto com ele.
      Resolveu voltar ao trabalho e lá foi chamado por seu chefe que o retirou da função. Custódio sentiu-se tonto, defecou, vomitou em tudo e foi levado para o hospital.
"Mas era num mar de sangue que culminava o assassinato moral de Custódio". p. 262

      Vilhena é o embaixador e sua mulher é Ana Amélia; eles perderam a filha Cecília que era casada com Xavier também embaixador. Eles tinham um filho Luiz Felipe.
Vilhena tinha problemas e Jorjão, (filho de Custódio)  era seu fisioterapeuta e Mila era quem fazia as leituras já que Vilhena sofria com as cataratas.
As "notícias tinham um papel - o de dar corpo a um movimento que ajuda a formar um juízo."p.66
..."linguagem demais, funcionando como anestesia"p.66
       Luiz Felipe conta para o avô Vilhena que quer ser ator:
* Quer pesquisar notícias fazer roteiro e para tanto quer a ajuda de seu avô.
p.89- "ética de dois pesos e duas medidas".
* Quer iniciar sua pesquisa com Artur Bernardes candidato a presidente em 1920. e que foi eleito em 1922, sob longa acusação de que era contra os militares, chamando-os de moleque e capazes de tudo. Só muito tempo depois foram ver que essas notícias eram forjadas.
        Aos poucos Ana Amélia começa a entender os apelos da filha que era desrespeitada pelo marido. Mais tarde pela governanta ao ver umas fotos percebeu numa delas Xavier que estava numa solenidade com uma mulher e esta vestia um terninho de sua filha Cecília, numa ocasião que esta estava no Brasil.
Soube também que Xavier dizia ser sua mulher portadora de problemas psíquicos e que para tanto, diante do gerente bancário ele passou a ter o dinheiro de Cecília em seu poder. Seus pais ficaram conhecendo o genro só agora e o o filho Luiz Felipe também descobriu o pai que tinha.
      Vilhena já não precisava mais de Mila com as leituras porque foi operado de cataratas, mas lamentava profundamente que estivesse cego para a filha na ocasião que ela precisava de ajuda e  veio a falecer.







sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Diário de Frida Kahlo


O Diário de Frida Kahlo
Um autorretrato íntimo




Frida fez poucas pinturas que não chegaram a duzentas obras. Viveu pouco e sofreu muito. Nasceu na cidade do México em 1907 e com seis anos contraiu poliomielite, ficando com problemas no pé direito. Seu desejo era ser médica e muitos atribuíram essa vontade ao querer dela se curar.
Conheceu o pintor Diego Rivera em 1922. Com 18 anos sofreu acidente de carro e quebrou a bacia e a coluna dorsal, necessitando estar internada por muito tempo. Foi aí que iniciou sua pintura. Pintou 56 autorretratos e justificava que era basicamente o que ela via – ela mesma.
Com 22 anos casa-se com Diego.
Seus problemas de saúde se agravam e tem que amputar seus dedos do pé direito. Conheceu André Breton, poeta, que dizia ser Frida, uma pintora surrealista.
Frida morou com uma amiga, na casa de Marcel Duchamp e fez contatos com Kandinsk, Picasso, Miró e outros importantes artistas da época.
Aos 39 anos fez cirurgia de enxerto de ossos e seu pé gangrenou e é amputada a sua perna até o joelho.





Na primeira exposição, no México aparece deitada em uma cama. Foi essa a única forma que o médico a liberou para sair do hospital.
Morreu aos 47 anos e seu acervo está no Museu Dolores Olmedo Patiño, junto com obras de Diego Rivera.
A pintura de Frida era primitiva e inspirada na cultura indígena mexicana.