quinta-feira, 7 de março de 2013

Bispo do Rosário


Bispo do Rosário morou muitos anos na Colônia Juliano Moreira e foi beneficiado com a proposta de Nise da Silveira que no lugar da lobotomia, preferia oferecer aos pacientes, oportunidade de criar.
Participou (após sua morte) das  exposições:  Bienal de Veneza em 1995 e também em 2003 seus trabalhos estavam num Museu em Paris.
Bordava, colava, pregava a partir de objetos já prontos e construía sua obra: vestimentas, mantos envolvidos em fios e tramas que eram artisticamente elaborados mostrando sua sensibilidade, delicadeza e criatividade.
Bispo do Rosário é referência na arte contemporânea brasileira.

Muito me inspirei na obra fantástica de Bispo do Rosário. Seu fazer remetia aos retalhos de costura de minha mãe, aos pequenos objetos com os quais brincava na infância e aos bordados exigidos pela professora de ginásio, nas aulas de dona Guigui, no Colégio Alvorada em Natividade.
Como já havia resgatado da infância, a bucha vegetal,  agora tornava-se prazeroso costurar, tingir, colar e criar obras para o Carnaval.
Na Série "Carnaval dos Sonhos", uni o orgânico da bucha, com o brilho dos paetês e lantejoulas, utilizados nas fantasias e carros alegóricos que desfilaram no Carnaval.




       


 Luzia Veloso


           

            Na obra de Luzia Veloso, percebemos que a bucha vegetal é elemento mediador da artista com sua imaginação, um lugar entre “algo” objetivo e “algo” subjetivo. Luzia entrou em sua matéria e  através dela tramou um “caminho de peles” de buchas que ora joga o olhar para o micro universo, ora nos dá o macro como uma outra possibilidade.  Sua obra mostra uma intimidade com a bucha vegetal, como também nos revela o aspecto profundo da relação entre a artista e a sua arte.   Cada trabalho dá a bucha uma nova dimensão, a da mais pura abstração onde a cor e a forma são inseparáveis, uma dá sentido à outra.
            Em alguns trabalhos a bucha foi esgarçada até chegar ao seu mínimo como matéria para depois voltar a ser enrolada criando um novo sentido para sua existência. Em outros há um acumulo de fragmentos que levaram anos de pesquisas até chegarem a um formato que tende ao infinito, os trabalhos parecem poder crescer continuamente, num arranjo de pequenas unidades idênticas que se repetem, mas que não perdem sua autonomia. A parte é o todo e o todo é a parte.                                                                 
             A artista fala que: “a mão sabe o caminho a seguir”, e Deleuze, ao falar sobre a obra de Bacon em “A lógica da sensação”, escreveu: “é como se a mão ganhasse independência e passasse ao serviço de outras forças...”. A mão de Luzia sabe pela experiência que “a forma já está lá” e junto com a intuição  libera as forças  e as tensões inerentes do próprio material  que é constituída.
            Acostumada a criar grandes objetos e instalações, Luzia transita bem em qualquer dimensão, suas obras pertencem à categoria das que tem uma inteligência visível que fala por si e para todos. Há uma organização consciente que transcende o código perceptivo, só nos damos conta muito perto quando o próprio intelecto reconhece a bucha. Todo o processo de formação da obra não é de ocultar o material, é de desdobrar a bucha nela mesma em sintonia com uma essência que faz parte da arte.
Claudia Ferraz






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