Bispo do Rosário morou muitos anos na Colônia Juliano Moreira e foi beneficiado com a proposta de Nise da Silveira que no lugar da lobotomia, preferia oferecer aos pacientes, oportunidade de criar.
Participou (após sua morte) das exposições: Bienal de Veneza em 1995 e também em 2003 seus trabalhos estavam num Museu em Paris.
Bordava, colava, pregava a partir de objetos já prontos e construía sua obra: vestimentas, mantos envolvidos em fios e tramas que eram artisticamente elaborados mostrando sua sensibilidade, delicadeza e criatividade.
Bispo do Rosário é referência na arte contemporânea brasileira.
Muito me inspirei na obra fantástica de Bispo do Rosário. Seu fazer remetia aos retalhos de costura de minha mãe, aos pequenos objetos com os quais brincava na infância e aos bordados exigidos pela professora de ginásio, nas aulas de dona Guigui, no Colégio Alvorada em Natividade.
Como já havia resgatado da infância, a bucha vegetal, agora tornava-se prazeroso costurar, tingir, colar e criar obras para o Carnaval.
Na Série "Carnaval dos Sonhos", uni o orgânico da bucha, com o brilho dos paetês e lantejoulas, utilizados nas fantasias e carros alegóricos que desfilaram no Carnaval.
Na obra de
Luzia Veloso, percebemos que a bucha vegetal é elemento mediador da artista com
sua imaginação, um lugar entre “algo” objetivo e “algo” subjetivo. Luzia entrou
em sua matéria e através dela tramou um
“caminho de peles” de buchas que ora joga o olhar para o micro universo, ora
nos dá o macro como uma outra possibilidade.
Sua obra mostra uma intimidade com a bucha vegetal, como também nos
revela o aspecto profundo da relação entre a artista e a sua arte. Cada
trabalho dá a bucha uma nova dimensão, a da mais pura abstração onde a cor e a
forma são inseparáveis, uma dá sentido à outra.
Em
alguns trabalhos a bucha foi esgarçada até chegar ao seu mínimo como matéria
para depois voltar a ser enrolada criando um novo sentido para sua existência.
Em outros há um acumulo de fragmentos que levaram anos de pesquisas até
chegarem a um formato que tende ao infinito, os trabalhos parecem poder crescer
continuamente, num arranjo de pequenas unidades idênticas que se repetem, mas
que não perdem sua autonomia. A parte é o todo e o todo é a parte.
A artista fala que: “a mão sabe o caminho a
seguir”, e Deleuze, ao falar sobre a obra de Bacon em “A lógica da sensação”, escreveu:
“é como se a mão ganhasse independência e passasse ao serviço de outras
forças...”. A mão de Luzia sabe pela experiência que “a forma já está lá” e
junto com a intuição libera as forças e as tensões inerentes do próprio material que é constituída.
Acostumada
a criar grandes objetos e instalações, Luzia transita bem em qualquer dimensão,
suas obras pertencem à categoria das que tem uma inteligência visível que fala
por si e para todos. Há uma organização consciente que transcende o código
perceptivo, só nos damos conta muito perto quando o próprio intelecto reconhece
a bucha. Todo o processo de formação da obra não é de ocultar o material, é de
desdobrar a bucha nela mesma em sintonia com uma essência que faz parte da
arte.
Claudia Ferraz
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